Friday, May 15, 2009

a meditação do alimento



Ao comermos uma deliciosa cenoura, temos que sentir que ela também é fruto do empenho de muitas gerações. Por trás de uma fatia de pão há uma história de milhares de anos. No Vietnã, quando comemos uma tigela de macarrão, temos consciência de que ela tem sua própria história. As mães não sabem automaticamente como temperar essa refeição. Esse conhecimento foi transmitido por muitas gerações. Todo bolo, todo prato possui sua própria história. A felicidade dos nossos ancestrais tornou-se nossa própria felicidade.

Thich Nhat Hanh em Ensinamentos sobre o Amor (leia mais aqui...)



começando pela tigela aparentemente vazia -- que se descobre nunca estar vazia, mas cheia de amor, de trabalho, de gratidão, de plena consciência, de sol e de chuva...





passando por uma legião de voluntários para a meditação do trabalho de cortar os legumes -- nas duas fotos acima, as mesas dispostas na varanda junto à cozinha do Upper Hamlet



que depois de cortados vão às cozinhas dos Hamlets onde outra legião de monges e voluntários laicos os processa...



até se transformar na comida bonita e apetitosa que encanta a tanta gente...



...tranquilamente saboreada durante um almoço picnic, sentados nos degraus da Torre do Sino (este, em Lower Hamlet), nos alimentamos saudavelmente por nossos ancestrais e por nossos descendentes, transformando comida em amor, alegria, irmandade, insights, compaixão...



Estes dizeres e caligrafia do Thây, o pão em tuas mãos é o corpo do cosmo, enfeitam o refeitório do Lower Hamlet -- numa folha de alface está o orvalho, as estrelas, as baleias, toda a memória da humanidade, o trabalho e o amor; em cada bocado está tudo o que na consciência individual e coletiva houver -- o cosmo...



quando a refeição fica pronta, o Irmão (aqui, ainda de avental de cozinheiro) soa o sino -- ou convida o sino, como dizemos em Plum Village -- e nos chama à plena consciência e para o almoço



para o almoço formal, Thây encabeça a longa procissão que segue do refeitório onde nos servimos de comida até o Salão de Meditação, através dos jardins...




...a longa fila, que incluirá toda a Sangha, monásticos vindo primeiro e por ordem de ordenação, e depois os praticantes laicos...



os homens na fila da direita, as mulheres na fila da esquerda, em silêncio e profunda concentração...



já no Salão, aguardamos todos entrarem, então Thây soa o sino, são lidas as Cinco Contemplações em pelo menos três idiomas (Inglês, Francês e Vietnamita) e só daí iniciamos a refeição que transcorrerá toda ela em silêncio, a não ser pelo tinir dos talheres e o mastigar... é maravilhoso participar de um almoço com centenas de pessoas em silêncio pacífico, desfrutando com presença e atenção da comida e da companhia uns dos outros -- é verdadeiramente milagroso, e uma prática muito efetiva de cultivar paz, atenção plena, gratidão



assim como a entrada, a saída também é formal e em fila...



com gratidão aceitamos a comida como uma benção, tanto mais desfrutada na companhia da Sangha, como neste almoço picnic, no jardim sob as árvores, em New Hamlet -- e podemos sempre praticar As Cinco Contemplações



Saboreie... em plena consciência




Ontem, em nosso retiro, nós tivemos uma festa da tangerina. A cada um foi oferecida uma tangerina. Nós colocamos a tangerina na palma de nossa mão e olhamos para ela, respirando de tal forma a fazer a tangerina se tornar real. A maioria das vezes em que comemos tangerina, sequer olhamos para ela. Nós pensamos em muitas outras coisas. Olhar para uma tangerina é ver o botão se formando em fruto, é ver os raios de sol e a chuva. A tangerina na palma da nossa mão é a maravilhosa presença da vida. Nós somos capazes de realmente ver a tangerina e sentir o cheiro de seu botão e da terra tépida e úmida. À medida que a tangerina se torna real, nós nos tornamos reais. A vida naquele momento se torna real.

Thich Nhat Hanh em O Coração da Compreensão (leia mais aqui...)

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