Wednesday, November 25, 2009

nem ir, nem vir


Este blog não será renovado durante minha permanência no mosteiro de Deer Park, Califórnia, onde pretendo praticar com a sangha durante o Retiro de Inverno e até Março de 2010.

Obrigado.

Paz, Amor e Alegria.
E um bom dia a cada dia.

Wednesday, October 21, 2009

10 Movimentos em Plena Consciência



Para quem vem participando dos retiros com os monges e monjas de Plum Village acontecidos nos últimos anos no Brasil, esta postagem é apenas um reforço e um lembrete...

No vídeo acima, Thich Nhat Hanh e membros da sangha monástica de Plum Village praticam alguns dos 10 Movimentos em Plena Consciência, que aparecem também nos esquemas ilustrativos abaixo, desenhados pelo noviço italiano, o muito querido Pháp Banh.

São exercícios leves que fazemos diariamente em Plum Village, durante a pausa na meditação caminhando, outras vezes logo após a sessão de meditação matinal e antes do início da palestra com o Thây (como já mostrado em mindfulness day - dia da plena consciência)

Lembre-se de sincronizar seus movimentos com a respiração -- movimentos de expansão ao inspirar, e movimentos de retração ao expirar --, ao fazer de três a cinco movimentos de cada série, sempre com atenção e concentração.

Desfrute!

- o primeiro movimento:

- o segundo movimento:


- o terceiro movimento:


- o quarto movimento:


- o quinto movimento:


- o sexto movimento:


- o sétimo movimento:


- o oitavo movimento:


- o nono movimento:



- o décimo movimento:

Thursday, October 15, 2009

mais lazy days - a casa da prática e da poesia

Você chegou, diz a placa à entrada do Upper Hamlet.
Onde? Onde você está, sempre.


Durante os Retiros de Verão, uma vez por semana costumamos ter uma sessão de perguntas e respostas com o Thây. Os participantes -- começando pelas crianças, depois os jovens e enfim os adultos -- encaminham-se até junto do mestre, e ao microfone fazem uma pergunta, compartilhada com toda a Sangha.

Em 2008, lembro-me de uma menininha que sentou-se junto do Thây e perguntou-lhe se ele era casado.
-- Não, eu não sou casado.
-- Mas você tem filhos? -- ela perguntou.
Thây pensou um instante, e com expressão divertida disse:
-- Sim, eu tenho filhos e filhas.
A menina surpreendeu-se.
-- Quantos?
Após uma breve pausa, Thây respondeu:
-- Um milhão -- e lançou seu olhar doce sobre a platéia, que naquele Retiro de Verão costumava ser de mil pessoas por semana.

A menina exlamou Oh!, e mostrou-se verdadeiramente surpresa, olhando-o deslumbrada. E quando todos pensavam que ela se daria por satisfeita, surpreendeu a todos com uma nova pergunta -- normalmente, o costume é que cada participante faça uma única pergunta.
-- E você sabe o nome de todos eles?
Thây refletiu antes de responder algo como:
-- Não de todos. Alguns estão mais próximos e eu convivo todos os dias. Desses eu sei o nome. Outros não ficam sempre perto de mim, mas mesmo assim de muitos deles eu sei o nome.

E havia mais por parte da menininha:
-- E você tem casa para todos esses filhos?
Thây olhou-a divertido.
-- Acho que temos uma jovem repórter, aqui... -- e depois de um silêncio, complementou -- É, eu tenho uma casa para um milhão de filhos...


Não estou transcrevendo, mas sim citando de memória, então perdoem-me a inexatidão e a contaminação da minha própria percepção

Pareceu-me que Thây falava de Plum Village, aberta a praticantes de todo o mundo, como a casa para um milhão de filhos e filhas. Falava também de seu coração. Falava dos ensinamentos do Buda. Falava da própria sangha.

Cada Sangha do Thich Nhat Hanh é essa casa na qual ele é o pai espiritual. Se você pratica, e souber olhar ao redor e dentro de si mesmo, encontrará essa casa.

Esta postagem mostra fotos dessa casa, e não gostaria de legendar as imagens, como nas postagens anteriores. Desfrute da sua própria atenção, do seu olhar e da sua respiração -- aqui e agora.

E talvez você se dê conta -- Você chegou, você está em casa.

































































nunca há

silêncio
porque há
poesia
sempre

Wednesday, October 7, 2009

os lazy days - fortalecendo nossa irmandade

Beba seu chá, na bonita caligrafia do Thây, -- é uma das atividades preferidas durante os lazy days, que nos ajudam a fortalecer nossa irmandade, conhecer-nos melhor, e tranquilamente desfrutarmos da companhia preciosa uns dos outros, aprofundando nossa prática como sangha -- lembro-me de uma das cerimônia do chá (informal) desse período, capitaneada pelo meu generoso e querido amigo Arnold Novak dos EUA, no lendário quarto Starflower (onde Thay teria escrito Velho Caminho, Nuvens Brancas, e de onde sairam muitos laicos para tornarem-se monásticos ao longo dos anos, e por isso eu o apelidei "quarto incubadeira"), que contou com amigos laicos e monásticos revesando-se nas almofadas e no compartilhar, tendo durado bem mais de 12 horas


nos jardins esvaziados, depois da partida da multidão de participantes dos grandes retiros, muitos Budas sentam-se em pacífica contemplação em meio a grande silêncio...

Os lazy days seguem-se após os grandes retiros, quando os monastérios de Plum Village ficam fechados para novos hóspedes. Alguns monges partem em merecidas férias, para acampar nos Pirineus, e alguns ficam desfrutando dos amplos espaços do mosteiro... Como staff e junto com alguns colegas laicos, tive o privilégio de passar essa temporada dos lazy days em Plum Village, quando organizamos e limpamos e colocamos em ordem -- no meu caso, como Guest Master, isso significou uma inacreditável pilha de roupas de camas e toalhas remanescentes do Retiro de Verão para lavar e secar e dobrar, além de arrumar o Sótão do Stone Building... Um privilégio que gostaria de compartilhar neste blog, através desta seleção de fotos e de alguns poemas curtos que escrevi então (grande parte deles já publicados nos blogs paraserzen e zentobe)


Esta chávena
que se acaba
Plenamente saboreada
não há porque chorar
você



revoada verde
entre colunas douradas

(nasce o sol)
vento no bosque



vento invade
o bosque

o mar invade
os meus ouvidos




folhas caídas
no bosque

as árvores se cobrem

de brotos




céu azul e folhas de tília
imóveis na superfície do chá
que o vento desfaz




na cozinha
um monge e sua canção
vietnamita

Aqui estou

e não sei onde...




meu passo brusco
folhas fibrilando
na brisa

o pássaro piando
estanco





um dos poucos momentos em que uma pequena multidão se forma durante os lazy days é nos horários das refeições...





lavar a louça em plena consciência, em silêncio e com vagar -- como se estivéssemos lavando o bebê Buda --, é parte da prática de Plum Village, e uma das que mais desperta calma e gratidão em mim

trabalhar calmamente durante os lazy days, trabalhar como quem descansa, trabalhar para energizar-se, desfrutando das tarefas, é uma das grandes alegrias desse período, em companhia dos irmãos laicos e monásticos




pingos na poça d'água
do escorredor de pratos
no salão amplo
silencioso deserto



lua cheia clareia
nuvens rolando
pelo céu estrelado
o sono a tudo refaz



prateleiras cheias
meus irmãos de partida

o balanço move-se na brisa
monastério que se esvazia



no bambuzal
invisível um passarinho

pia um samba secreto



caneta à mão
o gato vem
pedir-me
carícias
que agora escrevo




tentando enxergar
o teu rosto

através do vidro

eu vejo o meu





sand in my eyes
I cry
blinded as you go
out of sight



um dos poucos ruídos que se ouve durante os lazy days vem da mesa de ping pong em pleno jardim do Upper Hamlet, que reúne monásticos e laicos na prática da alegria





da copa das árvores cai
um rendilhado de folhas

em luz e sombras

sobre a renda das samambaias
eu me rendo




winged petals
flying over
the lotus pond



petals drop
thoughts and tears
drift



Laundry anguish:
I cannot wash
off the suffering
Our hearts

(A dirty linen
I cannot wash
your heart
so I'll try mine)



A chuva
chora
por mim
a sua partida



primeira lua cheia
e eu quase corro

a caminho de encontrá-la

negligencio você

e a perco




Estrelas cadentes
aviões vagalumes
tantas noites escuras
sobre esta terra



A lua
não sabe que é a lua.
Silenciosa, flutua.

Branca ou amarela
nem sabe ser cheia.
Nunca se esvazia.

Sequer imagina ser bela.
Então como pode?
Tão bela a lua cheia!




nesta foto, o querido Pháp Don, o maravilhoso abade do Upper Hamlet, a quem gostaria de agradecer minha estadia durante os três meses do Verão, e pela prática da generosidade, da calma, do cuidado, da alegria, do silêncio... A todos os monásticos, o meu obrigado pela acolhida e pela permissão para permanecer, e meu amor ao Arnold, ao Mark, à Gabriela, à Atika, ao Kasper, ao John, ao Richard, que comigo criaram estes belos dias de irmandade...