Beba seu chá, na bonita caligrafia do Thây, -- é uma das atividades preferidas durante os
lazy days, que nos ajudam a fortalecer nossa irmandade, conhecer-nos melhor, e tranquilamente desfrutarmos da companhia preciosa uns dos outros, aprofundando nossa prática como sangha -- lembro-me de uma das cerimônia do chá (informal) desse período, capitaneada pelo meu generoso e querido amigo Arnold Novak dos EUA, no lendário quarto
Starflower (onde Thay teria escrito
Velho Caminho, Nuvens Brancas, e de onde sairam muitos laicos para tornarem-se monásticos ao longo dos anos, e por isso eu o apelidei "quarto incubadeira"), que contou com amigos laicos e monásticos revesando-se nas almofadas e no compartilhar, tendo durado bem mais de 12 horas

nos jardins esvaziados, depois da partida da multidão de participantes dos grandes retiros, muitos Budas sentam-se em pacífica contemplação em meio a grande silêncio...
Os
lazy days seguem-se após os grandes retiros, quando os monastérios de Plum Village ficam fechados para novos hóspedes. Alguns monges partem em merecidas férias, para acampar nos Pirineus, e alguns ficam desfrutando dos amplos espaços do mosteiro... Como
staff e junto com alguns colegas laicos, tive o privilégio de passar essa temporada dos
lazy days em Plum Village, quando organizamos e limpamos e colocamos em ordem -- no meu caso, como
Guest Master, isso significou uma inacreditável pilha de roupas de camas e toalhas remanescentes do Retiro de Verão para lavar e secar e dobrar, além de arrumar o Sótão do Stone Building... Um privilégio que gostaria de compartilhar neste blog, através desta seleção de fotos e de alguns poemas curtos que escrevi então (grande parte deles já publicados nos blogs
paraserzen e
zentobe)
Esta chávena que se acaba Plenamente saboreada não há porque chorar você
revoada verde
entre colunas douradas
(nasce o sol)
vento no bosque
vento invade
o bosqueo mar invade
os meus ouvidos
folhas caídas
no bosque
as árvores se cobrem
de brotos
céu azul e folhas de tíliaimóveis na superfície do chá
que o vento desfaz
na cozinhaum monge e sua canção
vietnamita
Aqui estou
e não sei onde...
meu passo bruscofolhas fibrilando
na brisao pássaro piando
estanco
um dos poucos momentos em que uma pequena multidão se forma durante os
lazy days é nos horários das refeições...




lavar a louça em plena consciência, em silêncio e com vagar -- como se estivéssemos lavando o bebê Buda --, é parte da prática de Plum Village, e uma das que mais desperta calma e gratidão em mim

trabalhar calmamente durante os
lazy days, trabalhar como quem descansa, trabalhar para energizar-se, desfrutando das tarefas, é uma das grandes alegrias desse período, em companhia dos irmãos laicos e monásticos
pingos na poça d'águado escorredor de pratosno salão amplosilencioso deserto
lua cheia clareianuvens rolandopelo céu estreladoo sono a tudo refaz
prateleiras cheias
meus irmãos de partidao balanço move-se na brisamonastério que se esvazia
no bambuzal
invisível um passarinhopia um samba secreto
caneta à mãoo gato vem
pedir-me carícias
que agora escrevo
tentando enxergar
o teu rosto
através do vidro
eu vejo o meu
sand in my eyesI cryblinded as you goout of sight
um dos poucos ruídos que se ouve durante os
lazy days vem da mesa de ping pong em pleno jardim do Upper Hamlet, que reúne monásticos e laicos na prática da alegria

da copa das árvores cai
um rendilhado de folhas
em luz e sombrassobre a renda das samambaias
eu me rendo
winged petalsflying over
the lotus pond
petals drop
thoughts and tearsdrift
Laundry anguish:I cannot washoff the sufferingOur hearts(A dirty linenI cannot washyour heartso I'll try mine)
A chuva chora por mim a sua partida
primeira lua cheia
e eu quase corro
a caminho de encontrá-la
negligencio você
e a perco
Estrelas cadentesaviões vagalumestantas noites escurassobre esta terra
A lua não sabe que é a lua. Silenciosa, flutua. Branca ou amarela nem sabe ser cheia. Nunca se esvazia. Sequer imagina ser bela. Então como pode? Tão bela a lua cheia!
nesta foto, o querido Pháp Don, o maravilhoso abade do Upper Hamlet, a quem gostaria de agradecer minha estadia durante os três meses do Verão, e pela prática da generosidade, da calma, do cuidado, da alegria, do silêncio... A todos os monásticos, o meu obrigado pela acolhida e pela permissão para permanecer, e meu amor ao Arnold, ao Mark, à Gabriela, à Atika, ao Kasper, ao John, ao Richard, que comigo criaram estes belos dias de irmandade...