A bananeira, quando nova, tem somente duas folhas. Assim que a terceira folha aparece, as duas primeiras a alimentam. Estas respiraram o ar e absorveram os raios solares para que a terceira folha conseguisse abrir-se e crescer. Quando a quarta folha surge, a terceira já se juntou às duas primeiras para nutri-la. Esse processo continua até a bananeira se tornar adulta. Nesse momento, as primeiras folhas começam a murchar, mas a energia delas está acumulada em todas as folhas que cresceram depois. Se observarmos a fundo uma das folhas mais novas, veremos a presença das mais antigas e compreenderemos que estas últimas nunca desapareceram. Observando profundamente, veremos toda a energia dos nossos pais, avós e ancestrais. Se essa energia não estiver acumulada dentro de nós, para onde mais poderá ter ido?
[...] Temos que observar a fundo para ver os esforços das incontáveis gerações passadas. Nós estamos na Terra, respiramos, apreciamos árvores e flores. Ao fazermos isso, vemos também as gerações passadas. Não há como nos separar delas. Acreditarmos que estamos sós ou isolados é uma ilusão que causa muito sofrimento.
Se sofremos como a árvore de cujas raízes fomos cortados é porque perdemos o contato com nossa família e nossas correntes ancestrais. [...] Tudo de que precisamos para nos curar está dentro de nós. É ali que carregamos a vida, o sangue, a experiência, a sabedoria, a felicidade e a tristeza de todos os nossos antepassados. Desfrutamos da saúde e do vigor que eles tiveram. [...] Estabelecendo uma conexão com nossos ancestrais, liberamos grandes reservas de energia e somos capazes de ver seus sorrisos e estilos de vida simples e saudáveis. As qualidades deles também estão em nós, se soubermos como despertá-las.
Thich Nhat Hanh em Ensinamentos sobre o Amor
no encerramento do Retiro de Verão, as condições permitindo, após a última Palestra do Dharma o Thây nos conduz numa meditação caminhando até o pomar das ameixeiras do Lower Hamlet (na foto acima, e nas fotos seguintes, abaixo), onde cuidadosa e silenciosamente caminhamos entre as doadoras árvores, praticando a plena consciência...
uma parte da sangha talvez tenha podido realizar a impermanência acompanhando a manifestação das ameixeiras desde o seu não-começo sem-fim, quando depois do inverno brotam as primeiras pequenas folhas e inflorescências, que depois tornam-se os frutos que vamos colher com o Thây...
...quando com o Thây vamos cada qual colher o fruto da nossa prática, depois de termos praticado juntos durante todo o verão, cada qual contribuindo para o acontecimento do Retiro de Verão que reúne praticantes de mais de 50 países, como em 2009, cada qual contribuindo para o estabelecimento de uma sólida energia da plena consciência na sangha...
passeamos com o Thây por entre as árvores, e entre elas nos sentamos para meditar -- contemplando a impermanência e o não-objetivo, sobre o amor, sobre a gratidão, sobre a simplicidade, sobre a compaixão, na Natureza que é uma grande fonte de inspiração -- e então juntos colhemos e desfrutamos das ameixas, juntos colhemos e desfrutamos dos frutos da nossa prática
assim encerra-se mais um Retiro de Verão -- desarmam-se as tendas das pessoas que escolheram ficar acampadas e a multidão de praticantes volta a seus países e às suas casas, levando a prática aprendida e vivenciada...
os jardins esvaziam-se, e para a parte da Sangha que ficou para a "arrumação da casa", é tempo de desarmar as tendas montadas para acolher as dezenas de grupos de Compartilhar o Dharma...
os bosques -- como este no Lower Hamlet, a pagoda do sino entrevista ao fundo -- sem as tendas dos hóspedes de Verão, volta a ser refúgio de tranqüilidade para os pássaros e as caminhadas em silêncio e recolhimento...
mesmo os girassóis, cultivados nos campos ao redor de Plum Village, estão prontos para ser colhidos...
para quem ficou durante os lazy days, a colheita das ameixas tem uma segunda parte, do trabalho realmente, quando percorremos todo o pomar colhendo as frutas, que as Irmãs irão transformar nas deliciosas geléias orgânicas chamadas Plum Gems, que irão alegrar os nossos desjejuns ao longo do ano, e ficam à venda nas livrarias dos Hamlets de Plum Village
Quando transformamos nosso próprio sofrimento, quando realizamos nossos sonhos, acabamos com a dor e concretizamos os sonhos dos nossos ancestrais e descendentes. Nossa prática é realizada por todas as gerações passadas e futuras.
[...] Ao comermos uma deliciosa cenoura, temos que sentir que ela também é fruto do empenho de muitas gerações. Por trás de uma fatia de pão há uma história de milhares de anos. No Vietnã, quando comemos uma tigela de macarrão, temos consciência de que ela tem sua própria história. As mães não sabem automaticamente como temperar essa refeição. Esse conhecimento foi transmitido por muitas gerações. Todo bolo, todo prato possui sua própria história. A felicidade dos nossos ancestrais tornou-se nossa própria felicidade.
Durante a prática, vamos nos conectar a todos os nossos antepassados, bem como aos rios, montanhas, plantas e alimentos da nossa terra. O que somos senão a manifestação e continuação de todos esses elementos? [...] É claro que estamos prontos para abraçar o que é positivo, mas temos que aceitar também os aspectos negativos de nossa sociedade, como a violência, o ódio e o racismo, a fim de transformá-los. Devemos viver no sentido de contribuir para a mudança desses elementos.
Thich Nhat Hanh em Ensinamentos sobre o Amor
Não existe chegar nem partir, pois nós estamos sempre com você, e você está sempre conosco. Quando voltamos para casa e nos lembramos de nos voltar para a nossa respiração, sabemos que nossos amigos em Plum Village e em toda a Sangha ao redor do mundo estão respirando também. Quando quer desejemos, podemos tomar refúgio nas práticas da respiração consciente, do comer consciente, da fala amorosa e muitas outras práticas maravilhosas. E quando o fazemos, sentimo-nos estreitamente conectados, não mais sozinhos. Tornamo-nos tão grandes quanto o Corpo da Sangha.
Vamos continuar com nossa prática quando retornarmos às nossas casas, famílias e sociedade. Assim como aprendemos a viver em harmonia com a Sangha em Plum Village, assim também podemos cultivar harmonia em nossa família e em sociedade. Assim como aprendemos a compreender e a apreciar nossos amigos praticantes, podemos aprender também a compreender e apreciar nossos colegas de trabalho e nossos vizinhos. Podemos praticar a fala amorosa com estranhos num ônibus em nossa cidade, assim como fazemos com nossos irmãos e irmãs em Plum Village. A prática da plena consciência esta onde nós estamos.
(em COMO DESFRUTAR DA SUA ESTADIA EM PLUM VILLAGE - UM GUIA DAS PRÁTICAS E ATIVIDADES, COMPILADO PELOS MONGES E MONJAS DE PLUM VILLAGE)
Encerro com a orientação acima -- a prática é todo momento, a prática está em todo lugar -- as postagens sobre o Retiro de Verão para este blog, e com a delicada foto abaixo, do quarto do Thây no monastério de Son Ha, na Cabana da Pele de Sapo (que ele menciona carinhosamente em sua Uma carta para todas as minhas crianças espirituais), gostaria de começar a compartilhar o período seguinte, o dos lazy days, quando Plum Village permanece fechada e a sangha descansa ao mesmo tempo em que dá conta de arrumar a casa e preparar-se para a programação do segundo semestre, trabalhando tranquilamente
um dos bosques onde a sangha se reúne para uma pausa durante a meditação caminhando com o Thây, nos fundos do Upper Hamlet, visto em outras postagens como meditação caminhando, sempre e meditação no cotidiano -- de novo entregue ao silêncio e solitude
as chuvas de verão apontam o caminho... diz-se que na outra ponta do arco-íris, onde ele termina, há um pote de ouro... Encontrei-o em Plum Village, como mostra a foto abaixo, do arco-íris terminando no Salão de Meditação do Upper Hamlet...
o pequeno buda sobre o altar do Salão de Meditação do Upper Hamlet, e na parte de cima da foto pode-se entrever a base do Buda branco que fica do lado de fora, no altar dos jardins de Plum Village
Inspirando, sei que estou inspirando
Expirando, sei que estou expirando
Inspirando, eu me vejo como uma flor
Expirando, eu me sinto terno
Expirando, sei que estou expirando
Inspirando, eu me vejo como uma flor
Expirando, eu me sinto terno
Um ser humano deve ser terno como uma flor, porque somos flores no jardim do universo. Basta que olhemos para as belas crianças a fim de perceber isto. Os dois olhos redondos são flores. A face transparente e a carinha meiga são flores. As mãos são flores. É porque nos preocupamos demais e porque passamos muitas noites em claro que se formam nossas olheiras. Inspirando, revivemos nossa natureza de flor. A inspiração faz reviver nossa flor. O expirar nos ajuda a ter consciência de que podemos ser tão ternos, de que somos tão ternos como uma flor. É uma meditação de gentileza amorosa para conosco.
Thich Nhat Hanh em A energia da Oração