Monday, August 10, 2009

meditação no cotidiano - vivendo Plum Village


Cada um de nós precisa “pertencer” a um lugar, como um centro de retiro ou um mosteiro, onde cada característica da paisagem, o som do sino e até mesmo os prédios tem o propósito de nos lembrar que devemos retornar à consciência. É proveitoso irmos a esse local de vez em quando, durante vários dias ou semanas, para nos renovarmos. Mesmo se não pudermos ir fisicamente ao local, basta pensarmos nele para sentir que estamos sorrindo e ficaremos em paz e felizes.

As pessoas que vivem lá devem emanar paz e jovialidade, os frutos da vida consciente. Elas precisam estar sempre presentes para cuidar de nós, nos consolar e dar apoio, nos ajudar a curar nossas feridas. Cada um de nós precisa encontrar um lar espiritual onde possamos nos recolher de tempos em tempos, da mesma forma como corremos para nossa mãe em busca de abrigo quando somos crianças.


Thich Nhat Hanh em O Sol meu coração





ouvir bem para melhor compreender

olhar bem para amar melhor

esculpidos na madeira, estes dizeres com a característica caligrafia do Thich Nhat Hanh encontram-se no jardim de Plum Village -- e há muitos outros, espalhados por todos os cantos, lembrando-nos da prática da plena consciência no cotidiano, em todas as atividades, em nossas relações com as outras pessoas e com nós mesmos...



junto ao lago de lótus do Upper Hamlet, que durante o verão fica repleto de flores, o belo Aaron dos EUA (de cuja autoria são muitas as fotos deste blog) e o monge a quem chamava de meu "Buda pessoal", o querido e iluminado Pháp Thûyen, do Vietnã. Ao fundo, vê-se o jardim transformado numa cidade de tendas, quando praticantes de todo o mundo -- agora em 2009 foram mais de 50 países -- vêm praticar e desfrutar das palavras do Thây, da convivência com a sangha e do bom tempo e bela paisagem -- humana e geográfica... Em Plum Village, as pessoas desabrocham como flores.



na cidade de tendas que toma Plum Village durante o Retiro de Verão, os praticantes mirins também realizam suas próprias meditações do chá ao ar livre...


...ou desfrutam do playground junto aos bosques -- uma das coisas mais lindas do Retiro de Verão, quando comparecem famílias inteiras a Plum Village, é poder observar as crianças sentindo-se livres e seguras, correndo por todos os lados, podendo contar com a assistência e orientação de todos os adultos, e nutrindo com alegria e sinceridade a prática de toda a sangha... (você pode ler mais na postagem todo os tamanhos, todas as idades)



às vezes, a paisagem se parece um pouco com a de um clube, pois não há nenhum código claro de vestimenta ou comportamento, e algumas pessoas demoram a se compor e se adequar à atmosfera de um mosteiro e à convivência com os monásticos e praticantes de longo prazo, que praticam silenciosa e discretamente em meio à multidão alegre e às vezes ruidosa, que aos poucos vai se dando conta da prática da plena consciência sem que nada lhe seja imposto


um amigo, que assim como eu esteve pela primeira vez em Plum Village para o retiro "The Breath of the Buddha", e de novo durante o Retiro de Verão de 2008, meditando à margem do lago de lótus, com a colorida cidade de tendas ao fundo... Para uma multitude de lótus lindos, há uma multidão de pessoas maravilhosas em Plum Village


durante um dia de cada semana temos o chamado Lazy Day, o Dia da Preguiça, quando não há programação formal, e cada pessoa dedica-se à sua própria prática.

O Lazy Day é um dia em aberto, durante o qual estamos verdadeiramente em contato com o dia e não tentamos criar uma agenda de atividades. Deixamos que o dia se desenrole naturalmente, sem horários. É um dia para praticarmos como quisermos. Podemos fazer meditação caminhando sozinhos ou com um amigo, ou meditação sentada no bosque. Podemos ler um pouco ou escrever à nossa familia ou para um amigo.

Este pode ser um dia em que olhamos com mais cuidado para nossa própria prática, e para nossos relacionamentos com as outras pessoas. Pode ser a ocasião de aprendermos muito sobre como estivemos praticando. Talvez reconhecamos o que podemos fazer, ou evitar de fazer, para trazer mais harmonia a nossa prática. Algumas vezes esforçamo-nos demasiado na prática, e isso pode estar criando tensão para nós mesmos e para as pessoas ao nosso redor. Neste dia em aberto, temos a chance de nos reequilibrarmos. Talvez percebamos que tudo o que necessitamos é de um bom descanso, ou então ser mais diligentes com a prática. O Dia em Aberto é um presente que damos a nós mesmos e à Sangha, de acordo com nosso próprio tempo, ritmo e necessidade de espaço. É um dia tranquilo para todos.

(de COMO DESFRUTAR DA SUA ESTADIA EM PLUM VILLAGE - UM GUIA DAS PRÁTICAS E ATIVIDADES, COMPILADO PELOS MONGES E MONJAS DE PLUM VILLAGE)


desfrutando do milagre do sol, do milagre da água, de tantos momentos maravilhosos disponíveis no cotidiano, meu amigo e colega de quarto Steve, o Soup, aproveita para lavar suas roupas ao ar livre, nos bonitos dias de bom tempo com os quais o verão no campo francês costuma nos presentear...


uma irmã recolhe suas roupas e pratica meditação caminhando ao longo do varal repleto


o irmão cuida da horta orgânica com suas hortaliças realmente belas e vigorosas, e mais do que simplesmente regá-las, ele as está aguando com plena consciência, fazendo do seu trabalho uma meditação, uma ocasião de desfrutar do estar vivo e agradecer... aqui e agora, aqui e agora mesmo -- diante desta foto, diante desta tela, diante destas palavras, consciente da sua própria visão, dos seus olhos, da sua inteligência, consciente da sua consciência -- a prática se faz a cada aqui e agora, aqui e agora... você está praticando, a-q-u-i-e-a-g-o-r-a, ou está assim só distraído vendo umas fotinhos e lendo qualquer coisa para se distrair?


o resultado do amor e pureza com que se trabalha em Plum Village, cultivando hortaliças como se cultiva a paz e a alegria, vê-se nestas alfaces maravilhosas e nos sorrisos dos noviços Phap Man (ao centro) e Phap Lien (à direita) e da noviça Trieu Nghiem


no Lazy Day, pode-se desfrutar dos belos jardins de Plum Village com calma -- uma das minhas presenças preferidas é este belo arbusto de malva, as flores como borboletas, as pétalas como asas rosadas, junto ao Bamboo building do Upper Hamlet


há muitos e belos recantos também para se ler, sombreados, frescos, perfumados... E ao redor, a doadora exuberância pacificadora da natureza, quando se a enxerga com olhos de plena consciência


há muito espaço de jardins e bosques para praticar exercícios leves e em plena consciência, como este com os bastões, do qual há sessões diárias orientadas pelos monásticos...


...ou então praticar a escuta atenta e a fala amorosa e compartilhar com um amigo, como aqui o meu querido Phap Banh, o noviço da Itália, e a delicada, doce Maria Grazia


uma visita ao lago de lótus -- este o do New Hamlet -- é também uma boa chance de contemplação da impermanência


há alguns lugares favoritos de toda a sangha, como este campo e bosque ao sopé do Upper Hamlet, logo abaixo da residência dos monásticos, onde muitas vezes fazemos uma pausa com Thây durante o percurso da meditação caminhando -- o que se enxerga dali, que faz o coração dilatar-se, é a vista ampla e lindíssima da foto abaixo...


a linda cidadela e igreja de Puyguilhem no topo da colina, a uma pequena caminhada do Upper Hamlet, e de onde se contempla um poente deslumbrante... Uma das coisas mais lindas das noites de verão em Plum Village é vir sentar-se no campo da foto acima e observar a lua cheia nascer por detrás desta colina e da cidadela...


Aaron, dos EUA, medita com vista para os arredores da paisagem campestre francesa, de campos cultivados e charmosos povoados, e abaixo os extensos bosques de pinheiros que há entre o Upper Hamlet e o monastério de Son Ha...


um recanto do bosque de pinheiros junto a Son Ha, que durante o Retiro de Verão transforma-se num bairro de barracas, já que apesar de muitos quartos, não há hospedagem suficiente para todos os praticantes que vêm a Plum Village, e muitos se dispõem a desfrutar do bom tempo vivendo ao ar livre -- eu mesmo tive esta experiência maravilhosa, acordando com o nascer do sol iluminando o meu rosto e tendo de noite a lua para iluminar o meu caminho...



em meio às flores e perfumes dos jardins abençoados de Plum Village, um programa para os Lazy Days é sentar-se para conversar com o belo Buda branco -- ao invés do intelecto e dos altares, em Plum Village o Buda frequenta o jardim e o coração dos praticantes...


Para mim, um centro de meditação é onde você retorna para você mesmo, onde obtém um entendimento claro da realidade, onde ganha mais força, compreensão e amor; onde você se prepara para reentrar na sociedade. Se não é assim, não é um centro de meditação. Desenvolvendo um real entendimento, podemos reentrar na sociedade e fazer uma real contribuição.

Temos muitos compartimentos em nossa vida. Quando praticamos meditação sentada e quando não a praticamos, temos dois períodos de tempo que são muito diferentes entre si. Quando sentamos praticamos intensamente; quando não sentamos não praticamos intensamente. Há uma parede que separa ambos: prática e não-prática. Prática é só para os períodos de praticar, e não-prática só para os períodos de não-praticar.

Como podemos misturar, juntar os dois? Como podemos trazer a meditação para fora da sala de meditação, para dentro da cozinha ou do escritório? Como pode o sentar influenciar o tempo de não-sentar? Se um médico lhe aplica uma injeção, não é só o seu braço que será beneficiado, mas todo o seu corpo. Se você pratica uma hora de meditação por dia, essa hora será para as 24 horas inteiras, e não só para aquela. Um sorriso, uma respiração deverão beneficiar o dia inteiro e não só aquele momento. Precisamos praticar de uma forma que remova a barreira entre prática e não-prática.

Quando andamos na sala de meditação, pisamos devagar, com cuidado. Mas quando vamos ao aeroporto, somos outra pessoa. Caminhamos de outro modo, com a mente menos desperta. Como podemos praticar no aeroporto e no mercado? Isso é budismo engajado. Budismo engajado não quer dizer apenas usar budismo para resolver problemas sociais e políticos, protestar contra as bombas, contra as injustiças sociais. Antes de tudo temos que trazer o budismo para a nossa vida diária.


Thich Nhat Hanh em Caminhos para a Paz Interior



se desejar, assista abaixo um lindo slideshow de fotos do Retiro de Verão de 2008 em Plum Village, França, a maior parte delas mostrando o Upper Hamlet, seus jardins e arredores, seus participantes e sua prática, por SamyasaSwi.