Wednesday, July 22, 2009

casa de famílias e palco de festivais

Thây com alguns membros da família latina... Recordo-me de uma Sessão de Perguntas e Respostas com o Thich Nhat Hanh, quando uma menininha perguntou a ele se um dia ele já tinha tido filhos... E ele respondeu que sim... Ela ficou surpresa, pois pensava que monges não teriam filhos... Quantos, ela perguntou... Thây sorriu e disse: um milhão de filhos... a menininha ficou ainda mais impressionada, e tirou a dúvida: e você tem uma casa assim tão grande para todos os seus filhos morarem? Thây de novo sorriu, e respondeu simplesmente, sim, eu tenho...


Esta postagem é sobre isso -- o coração do Buda e do mestre, e o coração manifesto e casa da família espiritual que somos --, e uma visita aos jardins do Upper Hamlet, Plum Village, onde costumo ficar hospedado, e suas pessoas e atividades durante o Retiro de Verão:


ser é interser, na bonita caligrafia do Thây -- se você pratica fica fácil de entender, como nos diz o mestre em seu lindo poema Interrelationship:

Você é eu, e eu sou você.
Não é óbvio que nós "intersomos"?
Você cultiva a flor em você mesmo
para que eu seja belo.
Eu transformo o lixo que há em mim
para que você não tenha de sofrer.

Eu apóio você,
você em apóia.
Estou neste mundo para oferecer-te paz;
você está neste mundo para trazer-me alegria.



três Irmãos nos jardins do Upper Hamlet, durante o Retiro de Verão de 2008: à esquerda, o querido Phap Banh, o noviço italiano que já havia aparecido em outras postagens deste blog como Claudio, e de quem recebi tanto amor e tanto apoio, com quem compartilhei longas caminhadas e confissões; ao centro da foto o silencioso e centrado e generoso Thay Pháp Don, abade em exercício do Upper Hamlet; e à direita o meu "Buda pessoal", Pháp Thûyen, de quem recebi tantos lindos ensinamentos, com quem compartilhei insights e momentos de poesia e arte...


a cada semana, durante o Retiro de Verão, temos em Plum Village um festival que reúne toda a sangha, monásticos e laicos, e praticantes de todas as idades. As crianças têm um papel especialmente ativo nestes festivais, participativo e criativo, e não comparecem como meras espectadoras, o que aumenta o sentido de união e sua presença no mosteiro e participação no retiro... Na foto acima, as crianças se preparam para uma de suas encenações


no Upper Hamlet, a platéia coloca-se junto ao lago de lótus (que pode ser visto durante as distintas épocas do ano na postagem impermanência - as quatro estações) e a Pagoda do Sino, entrevista à direita nesta foto, tirada durante o Festival da Lua


Ecco! A querida Luiza, de Verona, com quem tive o privilégio de conviver, trabalhar e compartilhar durante todo o Verão


sorrisos amplos e aplausos silenciosos na melhor tradição de Plum Village, mãos para cima e uma linda energia move-se no ar... Repare na alegria desta platéia, à qual são ofertadas as coisas mais puras e muitas vezes até ingênuas, doces e divertidas... Alimento para o coração


o coral infatil que reune crianças de todos o mundo canta pela paz, e uma luminária de papel faz as vezes de Lua enquanto a própria se move pelo céu...


e enfim a Lua nasce, junto à residência dos monásticos e por detrás dos bosques que cercam o Upper Hamlet... Algumas vezes, na Lua cheia, promovemos uma fogueira junto ao lago de Son Ha, e a qualidade das apresentações musicais é sempre impressionante, e às vezes se dança, sob a lua, junto ao lago... em Plum Village


um detalhe da Pagoda do Sino do Upper Hamlet, sob a benção da lua cheia, na linda foto do meu amigo Richard Friday


outros festivais que acontecem durante o Retiro de Verão, um por semana, são o Festival da Paz, o Festival dos Ancestrais (você pode ler uma palestra dada por Thây neste dia, e ver as fotos, clicando aqui) e o Festival da Rosa, do qual a foto acima é um detalhe. Neste dia, todos os participantes do retiro são convidados a caminhar dando um passo por seu pai e outro por sua mãe, a cada passo, e durante a linda cerimônia no final da tarde, um ritual muito tocante e curador, as crianças entregam a cada pessoa duas rosas para usar em homenagem aos pais, vermelhas ou brancas, dependendo de estarem ainda vivos ou já falecidos, e depois fazem prostrações de agradecimento. Compartilha-se canções e poesias compostas para a ocasião, e também são lidos depoimentos -- e o texto fundamental é Uma rosa para sua lapela, que você pode ler acessando-o aqui.



um dos privilégios dos retiros em Plum Village -- além, é claro, de estar na presença manifesta do mestre e receber ensinamentos diretamente dele --, é o de estar em contato com praticantes do mundo todo -- e a prática é a de nos reunirmos em pequenas "famílias", que se escolhe de acordo com a preferência de idioma, talvez de idade, talvez pelo monge senior que a orienta... Há as famílias espanhola e italiana, que sempre tão bem acolhem os brasileiros, e a família holandesa, a alemã, a francesa (na foto acima), a norte-americana, as famílias internacionais, a dos jovens adultos -- mais de uma dezena delas, e ao optar por uma você passa a conviver com as pessoas, fazendo as refeições e meditação do trabalho juntos, compartilhando a história de vida e a prática espiritual...



esta é uma foto da família italiana, reunida sob um toldo armado nos jardins do Upper Hamlet, na qual vê-se o querido Pháp Ban que canta acompanhando Martino ao violão, observado pelo Buda vietnamita Pháp Thûyen... "Família italiana" é uma mera denominação, pois ela comporta gente do mundo inteiro, e fala-se todos os idiomas, embora o Italiano seja o predominante


uma outra foto da família italiana em sua constelação do verão de 2008, na qual aparece o monge senior que a orientou, o abade em exercício do Upper Hamlet Thây Pháp Don, durante o aniversário de dezenove anos do brilhante e encantador Martino, na época um aspirante a monge, com a túnica cinza -- meses depois ele tornou-se noviço em Plum Village, e agora atende pelo nome de Pháp Bieu.


famílias e famílias, laços espirituais e laços de sangue -- no centro da foto, o noviço Pháp Man dos EUA, com sua mãe de sangue à direita e seu pai espiritual à esquerda, o monge e mestre do Dharma Thây Pháp An, atualmente liderando a Sangha do Instituto Europeu de Budismo Aplicado, ligado a Plum Village, com sede na Alemanha.


um outro feliz aniversário nos jardins do Upper Hamlet, e um outro evento internacional de celebrar a paz da convivência harmoniosa entre os povos -- a celebrante vem da Índia, cada uma das crianças desta foto tem nacionalidade diferente, e havia gente do mundo inteiro na festa ao ar livre... Em Plum Village, em muitos aniversários canta-se o Parabéns a você em bem mais de uma dezena de idiomas


este é um momento de intimidade tranqüila da família espanhola que se reuniu durante o retiro "The Breath of the Buddha" -- dela participavam praticantes até de Hong Kong e do Havaí, além de Argentina, Portugal, Inglaterra, Irlanda, Itália, Noruega, e é claro Brasil -- numa roda de Compartilhar do Darma nos jardins pacíficos e belos do mosteiro de Son Ha...


Linkesta foi a roda de Compartilhar do Darma de despedida da família espanhola do retiro "The Breath of the Buddha", no salão de meditação do mosteiro de Son Ha, aos pés da colina do Upper Hamlet, do qual o abade é Thây Pháp Son, ou Hermano Miguel ou Brother Michael (que aparece na foto abaixo), sobre quem Thich Nhat Hanh nos conta em sua bonita Uma carta para todas as minhas crianças espirituais


Não existe chegar nem partir, pois nós estamos sempre com você, e você está sempre conosco. Quando voltamos para casa e nos lembramos de nos voltar para a nossa respiração, sabemos que nossos amigos em Plum Village e em toda a Sangha ao redor do mundo estão respirando também. Quando quer desejemos, podemos tomar refúgio nas práticas da respiração consciente, do comer consciente, da fala amorosa e muitas outras práticas maravilhosas. E quando o fazemos, sentimo-nos estreitamente conectados, não mais sozinhos. Tornamo-nos tão grandes quanto o Corpo da Sangha.

Vamos continuar com nossa prática quando retornarmos às nossas casas, famílias e sociedade. Assim como aprendemos a viver em harmonia com a Sangha em Plum Village, assim também podemos cultivar harmonia em nossa família e em sociedade. Assim como aprendemos a compreender e a apreciar nossos amigos praticantes, podemos aprender também a compreender e apreciar nossos colegas de trabalho e nossos vizinhos. Podemos praticar a fala amorosa com estranhos num ônibus em nossa cidade, assim como fazemos com nossos irmãos e irmãs em Plum Village. A prática da plena consciência está onde nós estamos.

(de COMO DESFRUTAR DA SUA ESTADIA EM PLUM VILLAGE - UM GUIA DAS PRÁTICAS E ATIVIDADES, COMPILADO PELOS MONGES E MONJAS DE PLUM VILLAGE)



Se desejar ver um pouco mais do Upper Hamlet clique aqui, e para ver mais de Son Ha, por favor clique aqui -- e desfrute de sua visita virtual!

Friday, July 17, 2009

as Nações Unidas do Sorriso

Quando você produz a paz e a felicidade em si mesmo, você começa a consumar a paz para todo o mundo. Com o sorriso que você produz em si mesmo, com a respiração consciente que você estabelece dentro de si, você começa a trabalhar pela paz no mundo. Sorrir não é sorrir somente para si mesmo; o mundo mudará por causa do seu sorriso.

Thich Nhat Hanh em
O Coração da Compreensão (leia mais aqui)




Quando eu era noviço, não conseguia entender por que o Buda tem um sorriso tão lindo se o mundo está repleto de sofrimento. Será que ele não se incomoda com tanta dor? Mais tarde, descobri que o Buda tem em si grandes quantidades de compreensão, calma e força, razão pela qual o sofrimento do mundo não o aniquila. Ele consegue sorrir para o sofrimento porque sabe lidar com ele e transformá-lo. Precisamos ter consciência do sofrimento que existe no mundo, mas sem perder nossa clareza, nossa calma e nossa força, para que possamos ajudar a transformar as situações. Um oceano de lágrimas não nos afogará desde que haja karuna. É por isso que o sorriso do Buda é possível.

Thich Nhat Hanh em A Essência dos Ensinamentos de Buda (leia mais aqui...)



sorria, na caligrafia de Thich Nhat Hanh


o lindo bebê Rafael, que frequenta Plum Village
deste o ventre de sua mãe Helena, sorrindo com os olhos


o querido Ernesto, da Sangha de Valência,
que também sorri com seus olhos de gato


sorrindo até na despedida -- Mark (Hey, Buddha!) da Austrália e Aaron dos EUA


os queridos Susanne (Alemanha) e Alain (França), com Stefan (Nouruega) ao violão, durante o Retiro de Verão de 2008



Durante os retiros de meditação, fazemos exercícios para respirar, sorrir e andar com plena consciência. O retiro cria um ambiente especial que conduz à plena consciência. Essa é a natureza coletiva desse evento. Caminhando com plena consciência, prestando atenção à respiração e praticando o sorriso, estamos cultivando nosso bem-estar pessoal. Mas, assim como o coletivo está no individual, o individual também tem um efeito sobre o coletivo. No momento em que damos um passo para a paz, o mundo muda. No momento em que sorrimos, mudamos um pouco não só nós mesmos mas os que entram em contato conosco.

Muitos de nós em Plum Village aprendemos o hábito de voltar à nossa respiração e sorrir toda vez que ouvimos o sino tocar. Esses hábitos positivos precisam ser cultivados, porque nossos hábitos negativos sempre nos empurram para fazer e dizer coisas que causam sofrimento a nós e aos outros.

Thich Nhat Hanh, Transformações na Consciência de acordo com a Psicologia Budista (clique aqui para ler mais)




Se somos um pessoa livre, não somos condicionados pelas coisas ao nosso redor. Simplesmente sorrimos para elas e trilhamos o nosso caminho. Aquilo que nos cerca é como um espelho. Se nós sorrimos, o espelho sorri. Se choramos, o espelho chora. Se estamos mal então a situação se torna ruim também. Mas mesmo numa situação ruim, se formos capazes de sorrir, então aquilo que nos cerca irá sorrir conosco. Portanto, aquilo que nos cerca está vindo da nossa mente.

Thich Nhat Hanh (Nothing to Do, Nowhere to Go - Waking Up to Who You Are)



o vasto sorriso perene de Duc Thân, também conhecido como Phap Easy


sorriso de luz: a Irmã Chân Kong,
verdadeira Samantabhadra, Bodhisattva da Grande Ação


o Irmão Phap Manh recebendo a visita de sua mãe


Phap Dong Luc e Claudio (Itália) , que na foto abaixo aparece já como o noviço Phap Banh, meu muito querido amigo



doces sorrisos iluminados: a Sangha jovem do Upper Hamlet


os Irmãos trabalham na cozinha sorrindo...


sorrindo e cozinhando Amor: Anand, da Índia, e um Irmão monástico


Gary, do Canadá, sorri para o Sol


Irmão e Irmã do Dharma, Lécio de Portugal e Denise da Sangha Plena Consciência (SP) -- esta foto foi tirada na paisagem do meu coração


num dia gelado, o sorriso solar e a presença fundamental
do querido Arnold, ao centro desta foto, aquecem o coração



Friends on the Path: (da esq para dir) este blogeiro junto do Gregory da Suíça, o David dos Eua, o Stuart da Escócia, o Leo da Irlanda, e atrás o querido Garry, da Tasmânia


Linkda esq. para dir, Ursula, da Alemanha, que ordenou-se noviça em Março de 2009 (clique aqui para ver fotos da cerimônia de ordenação), Mari da Nouruega e Sander da Holanda


o maravilhoso Utsavo, da Polônia -- sorrindo com todo o ser


o querido Phap Huu e um jovem amigo


os queridos Gilad, de Israel, e Rebekah, do Canadá


objetos achados: Stephan, dos EUA, e este blogeiro brasileiro



na estação de Ste. Foy le Grande, sorrindo mesmo na despedida: o querido Garry, da Tasmânia, e o meu querido irmão do coração, Arnold -- what the world needs now is love, sweet love; that's the only thing that there is just too little of...


Link
Nossas aflições nada mais são do que iluminação. Podemos deslizar em paz nas ondas de nascimento e de morte. Podemos viajar no barco da compaixão e atravessar o oceano da ilusão com um sorriso destemido. À luz da interexistência, vemos a flor no lixo e o lixo na flor. É nas profundezas do sofrimento e das aflições que podemos contemplar a iluminação e o bem-estar. É exatamente na água lamacenta que a flor de lótus brota e floresce.


Thich Nhat Hanh, Transformações na Consciência de acordo com a Psicologia Budista (leia mais aqui)