Sunday, April 26, 2009

os preparativos em Lower Hamlet



Da mesma forma como mostrado na postagem a calmaria e o trabalho que antecedem o verão..., acontecem os preparativos para o Retiro de Verão também nos outros Hamlets -- aqui, o Lower Hamlet (cujo belo marco de entrada aparece na foto acima), distante cerca de 4 km do Upper Hamlet. É um dos monastérios para as monjas e praticantes laicas (sendo o outro o New Hamlet), e estas bonitas fotos (com exceção da primeira, acima, e da última) são presente da minha amiga Barbara Muhs, que ficou hospedada lá... Desfrutem!




todas as vezes que me deparo com esta vista, a Torre do Sino e o pomar das ameixeiras de Lower Hamlet, naturalmente eu me inclino e reverencio a paisagem, a Natureza, o planeta, a humanidade que apesar de tudo ainda consegue conservar isso tudo -- e ouço minha mente tocando "Aqui é a Terra Pura, a Terra Pura é aqui..."




ao fim da primavera o gramado está "um pouco" alto, mas não deixa nunca de oferecer beleza



e porque são quilômetros e quilômetros lineares de gramados a serem aparados, Lower Hamlet conta com este carrinho cortador de grama



as Irmãs trabalham duramente, assiduamente, mas sem jamais perder a alegria e desfrutando do trabalho -- é este o sentido da meditação do trabalho, aprender a desfrutar das tarefas...



e há tanto jardim e tantos recantos a serem cuidados...


esta é a área onde cada pessoa lava sua louça depois das refeições, agora vazia e inundada de sol


a mesa do chá, simples e despretensiosa como tudo o mais em Plum Village, e que tem vista para os jardins e uma das salas de meditação



se tudo parece limpo no Lower Hamlet, é porque aí vem o time de limpeza, atravessando o jardim com passos felizes e em plena consciência -- trabalhamos sorrindo em Plum Village



a primeira refeição da manhã normalmente ocorre muito cedo, depois da primeira sessão de meditação sentada


uma das meditações do trabalho mais comuns e muito prazeirosa, um ótimo exercício de concentração, é a de cortar os legumes -- monásticos e laicos trabalhando em cooperação


a caminho da cozinha, a comida também pratica a meditação caminhando, usando os nossos pés e respiração para isso...



aqui vemos algumas das etapas da preparação do tofu, os grãos de soja à esquerda e a "espuma" em que eles se transformam -- cada Hamlet tem seu próprio time de preparar o tofu caseiro



chegamos à etapa final do preparo do tofu, que é cortado e conservado em vasilhames cobertos com água, e são consumidos em poucos dias



durante os dias mais tranquilos, basta uma única mesa de comida e alguns panelões para todas as pessoas se servirem com fartura


são tantos os passos e tanto trabalho até termos nosso prato lindamente cheio de comida assim tão colorida, o que torna imensa, infinita a gratidão por tudo e a todos...



no final da tarde, o grande sino da Pagoda junto ao lago de lótus é convidado a soar por uma monja que entoa também cânticos -- o maravilhoso som alcança longe, no espaço e talvez no tempo, adentrando não só os ouvidos mas principalmente os corações...




...no Retiro de Verão de 2008, o chamado alcançou 45 países, de onde vieram mais de 4 mil pessoas para praticar a plena consciência e cultivar a paz, passando de uma a quatro semanas em algum dos Hamlets de Plum Village

Monday, April 20, 2009

a calmaria e o trabalho que antecedem o verão...





Estas são algumas fotos do Upper Hamlet (na foto ao lado, o sino de atividades que nos põe a par do programa do dia e nos ajuda a retornar à nossa respiração, manter a plena consciência -- e a pontualidade!) Neste conjunto de fotos, os dias tranquilos porém laboriosos que antecedem o início do Retiro de Verão:





Cheguei, estou em casa, na caligrafia do Thây -- ouço essa canção tocando na minha "Rádio Mente" todas as vezes que adentro o Hamlet, que continua: ... no aqui e no agora, eu sou forte, estou livre...




para saudar a todos, a majestosa tília frondosa, que nos oferece sombra no calor, flores para o chá, a maravilhosa música das abelhas que a visitam para colher pólen, ou a melodia das gotas que dela pingam em cascata, de folha em folha num longo caminho até o chão, depois das chuvas, quando o orvalho ou a geada derretem -- é como se tudo evolvesse ao redor dela no Upper Hamlet


estas são as flores da tília -- quantas vezes com uma tigela de água quente caminhei até a árvore, com a paz nos meus passos, agradeci a oferenda e colhi alguns botões... e em segundos a água estava perfumada e doce como se ali tivesse mel, pronto o delicioso chá de tília... Algumas vezes tomei o chá misturado às minhas lágrimas, vendo as nuvens refletidas na superfície dele, tantas as formas para uma água só... Como nos diz o Thây, beber chá é beber nuvens... Vi isso tão claramente! Recordo-me de uma das meditações do trabalho mais especiais, quando numa tarde fresca, por duas horas fiquei colhendo as flores da tília, que começavam a perecer -- para que pudéssemos conservá-las secas e depois oferecer aos participantes do Retiro de Verão, para que eles também desfrutassem desse chá delicado e feliz... Trabalhei com amor colhendo a poesia das flores da tília para o chá da Sangha



junto à tília fica o Stone Building, uma das construções originais deste Hamlet, que já abrigou inúmeros praticantes em seus muitos quartos -- e até o próprio Thây, que no início teve ali o seu quarto, onde escreveu o livro Velho Caminho, Nuvens Brancas (leia alguns trechos aqui...), sua excelente biografia do Buda



um detalhe da lateral do Stone Building: onde mais a entrada para um banheiro público se cobriria de verde e de flores? Estamos em Plum Village!



o bambuzal junto ao Stone Building, sempre um refúgio de paz, e de frescor nos dias mais quentes



um ritual de chegada e boas vindas é o passeio pelos jardins, esverdeando-se depois das primeiras chuvas, com suas belas pedras que bem servem de almofada de meditação... Aqui, o jardim é também um Salão de Meditação



enquanto Thây medita em sua Cabana do Sentar na Calma, aqui no Upper Hamlet...



a livraria se prepara e se abastece com livros do Thich Nhat Hanh em todos os principais idiomas europeus, com caligrafias desenhadas pelo mestre, com sorvetes e alimentos orgânicos, tanto trabalho e dedicação dos Irmãos...


as estufas, onde tudo se cultiva organicamente, estão a plena carga, trabalho cuidadoso e dedicado dos Irmãos que cuidam da horta, verdadeiros bodhisattvas dando passos de paz enquanto cultivam amor e vegetais...


e os vegetais sendo preparados para mais uma refeição, simples e deliciosa, simplesmente deliciosa...


na cozinha, ainda vazia e limpa...


é raro encontrar alguém pelos caminhos, mesmo que seja na principal trilha da meditação caminhando, pois há tanto espaço para explorar



no final do caminho da foto acima, chegamos a este campo com um pequeno bosque, local preferido de meditação de muitos praticantes... Na primavera, a grama está alta e precisamos apará-la antes das famílias e crianças chegarem para o Retiro de Verão...



muitos quilômetros lineares de gramados são aparados e rastelados, sendo a meditação do trabalho mais frequente nos dias que antecedem o Retiro de Verão, da qual participam igualmente os monásticos e os laicos


então montamos as primeiras de muitas tendas


o Irmão trabalha num canteiro de flores, com o prédio da Sala de refeições ao fundo


estes amplos jardins tranquilos em breve irão acolher os participantes do Retiro de Verão...


o gramado recebe as inúmeras famílias do Compartilhar do Dharma, entre as quais os praticantes se dividem por língua e outras afinidades eletivas... começa mais um Retiro de Verão!

Sunday, April 12, 2009

compartilhar

“Podemos ir a um monastério ou a uma bela ilha para retiro e cura, desde que saibamos que a cura está dentro de nós e que o lugar é apenas a condição que permite à cura manifestar-se. Não confira poderes especiais de cura ao lugar. Quando deixarmos de correr de um lugar para outro, seremos muito mais felizes.”

Thich Nhat Hanh, em Nothing to do, Nowhere to go - Waking up to who you are (Parallax Press, 2007)





Este blog nasce para compartilhar com a Sangha brasileira da tradição do Mestre Zen Thich Nhat Hanh (foto abaixo) algumas de minhas vivências em Plum Village, centro de meditação na França, e através de fotos e textos oferecer um certo sabor, com muita cor, do que é a vida e a prática lá -- e talvez inspirar mais pessoas a visitar esta que é a casa principal, a nave-mãe da nossa Sangha -- sem no entanto desejar mistificar o lugar, como bem dito no texto acima.

As fotos foram enviadas a mim por amigos que também lá estiveram, como o Leo Dobbin da Sangha Viver Consciente - RJ, o Sam NG de Hong Kong, o Richard e a Joanne Friday dos EUA, a Barbara Muhs e o Sander Hartveld da Holanda, o Ian Roberts da Austrália, o Chad Morse, também dos EUA, e muitas delas foram colhidas de álbuns disponíveis nos sites Flickr e Picasa, de participantes de retiros diversos nos últimos anos, como o David Nelson, a Sophie, o Claudio, o Aaron, o casal Chris e Donnie.

Este não é um site oficial de Plum Village. Para acessar o site de Plum Village, por favor dirija-se a http://www.plumvillage.org/







Na foto do topo, vitral no monastério de Upper Hamlet, com os dizeres Smirt, Samadhi, Prajña -- normalmente, em outras tradições eles aparecem como Sila, Samadhi, Prajña. Thây (como é chamado Thich Nhat Hanh por seus amigos e discípulos) explica que ao invés de Sila, que pode ser rapidamente traduzido como princípios morais ou ética, ele prefiriu adotar Smrti, que significa plena consciência, pois necessariamente onde houver a prática da plena consciência nos atos, fala e pensamentos, haverá sempre ética, embora nem sempre ocorra o inverso.

Na foto de baixo, Thich Nhat Hanh no templo do monastério de Son Ha -- e sim, o Buda é de louça rosa bebê; a meu ver a mensagem bem-humorada é para não haver dúvida nem chance de se idolatrar uma estátua, imagem, uma idéia ou ideal do Buda. Como é dito num dos cânticos:

"Aquele que reverencia e aquele que é reverenciado são ambos por natureza vazios. Portanto, a comunicação entre eles é indizivelmente perfeita."

impermanência - as quatro estações



Impermanência é boa notícia. Sem impermanência nada seria possível. Com impermanência toda porta é aberta para a mudança. Em lugar de lastimar, deveríamos dizer: Longa vida para a impermanência. Impermanência é um instrumento para nossa liberação.

Thich Nhat Hanh em Cultivando a Mente de Amor (para ler mais....)


A cada época do ano, Plum Village, que se constitui de quatro monastérios (Upper Hamlet, Son Ha, Lower Hamlet e New Hamlet) próximos porém em locais distintos -- todos na região de Bordeaux - França --, tem a paisagem alterada pelo clima e pela maior ou menor presença de praticantes -- e permanece sempre linda!

Escolhi a Torre do Sino junto ao lago de lótus em Upper Hamlet, monastério onde fiquei hospedado todas as vezes, para mostrar as mudanças na paisagem de acordo com as estações e as épocas de retiro... Desfrute!


em primeiro plano vemos o lago de lótus no fim da primavera, com as folhas viçosas e os botões de lótus despontando (principalmente no canto à esquerda da foto, clique nas fotos para vê-las em tamanho maior)


o Irmão Phap Y caminha pelo jardim na calma do dia-a-dia do monastério, fora do período dos grandes retiros...


e chega o período do vibrante Retiro de Verão (que normalmente vai do início de Julho ao início de Agosto), aberto a famílias e praticantes de todas as idades, que chegam de diversos países do mundo...


... e fazem do lago de lótus, no seu auge repleto de flores, uma das contemplações preferidas...



depois do retiro de verão o monastério novamente se esvazia e temos os "Lazy days", quando permanecem somente os monásticos e os praticantes laicos residentes -- reina profunda paz e desfruta-se de intensa irmandade...


no lago de lótus sob o luar, vê-se o passado, presente e futuro nas flores -- convivem os botões, as coroas abertas e as que já se despetalaram...


chegado o outono, as folhas gentilmente abandonam as árvores e cobrem o chão... Thây compartilha conosco seu insight ao caminhar pelos jardins do Upper Hamlet: O carpete de folhas de carvalho era muito espesso. Havia folhas que ainda estavam frescas, da cor dos robes dos monges Theravada. As árvores deixam cair suas folhas e tornam a terra mais rica – a terra e a árvore nutrem uma à outra – vi isso claramente. (por favor, se desejar leia mais aqui...)


as árvores nuas tornam a paisagem mais vasta, é como se o teto se abrisse sobre nossas cabeças, desfolhado, e há mais céu -- como neste dia outonal incrivelmente azul...


nos primeiros dias de inverno, a paisagem some na neblina, a Torre do Sino só ao fundo se adivinha, e o lago está vazio (aparentemente) de lótus...


depois, cobre-se com o delicado branco da geada, e à beira do lago congelado, o praticante senta-se e medita sobre a impermanência...


e enfim a paisagem se cobre de neve e se queda silenciosa... o lago sem lótus torna-se perfeito espelho para a lua e o céu infinitamente estrelado...



quando o sol brilha e aquece, temos a sinfonia cantante da neve derretendo em gotas, escorrendo em riachos...



e chega outra primavera, e o lago de lótus se enche novamente de verde, azul, rosa...